Ok, "nerds", temos que resolver uma coisa

Parte I - Referências...

Faça como o Capitão América, e pegue as referências.


"Filmes nerds viraram fast food" meu bom amigo Bud

Batman V Superman é um dos filmes mais doentios e sem-sentido já feitos, tanto que eu acabei de voltar do cinema e não tô com saco pra ficar fazendo piadinhas irônicas com o fato de me chamarem de fanboy da DC. E o que temos que resolver? Quem afinal foi responsável por essa atrocidade. Então sejamos bem diretos. Eu utilizarei uma série de referências e as duas principais serão:

A-Os Vingadores, de 2012
B-Superman: O Homem de Aço, de 2013

Ambos foram filmes de considerável sucesso, apesar do Superman ter atraído críticas extremamente negativas, eu o achei muito bom, mesmo tendo claras falhas, o considero uma referência positiva. Tendo isso dito, vamos tentar definir rapidamente porque esses filmes deram certo e outros simplesmente não dão.


Vingadores, como nos gibis, misturava todos esses heróis que até então viviam aventuras separadas. Mas como fazê-lo no Cinema? Com considerável e equilibrada calma. Foi a primeira sequência de cinco filmes separados: "Homem de Ferro", "O Incrível Hulk", "Thor", "Homem de Ferro 2" e "Capitão América: O Primeiro Vingador". Assim sendo, no épico de 2012 nenhum personagem foi introduzido, NENHUM. Sem-estória-de origem. O Cubo Cósmico havia sido apresentado no filme do Capitão, o vilão Loki no filme do Thor, a iniciativa dos Vingadores pela S.H.I.E.L.D. no filme do Homem de Ferro e daí em diante. Certo? Certo. A bilheteria foi colossal, imaginava que todo mundo tivesse visto.


Logo depois de "Vingadores", no mesmo ano de "Homem de Ferro 3" e "Thor: Mundo Sombrio", que pegaram toda a expectativa que tínhamos e nos jogaram de volta pra enfiarmos onde pudéssemos, o filme do Superman foi bem mais ousado, surpreendente e artisticamente respeitoso. Eu lembro de chamar de "alívio artístico" na época, pois o perigo desses filmes ficarem repetitivos estava muito claro e ele voava pelo seu próprio caminho, mesmo sendo diferente. Esse tinha Zack Snyder, Christopher Nolan e David S. Goyer na produção. Foi uma origem, um "Batman Begins" pra um herói bem famoso, que ele com certeza merecia. Além da produção inteligente, foram impressionantes as escalas de ação pra um primeiro filme, notava-se como eles tinham economizado nada, víamos o Superman voando e lutando em todo o seu poder, foi impressionante, muito mais do que se esperava.


Eis que em 2013, anunciam "Batman V Superman: A Origem da Justiça". De lá pra cá, muitos chegaram a levantar que ele talvez fosse o filme mais hypado da História do Cinema! Ou seja, expectativa inevitavelmente no talo. Eles iam mostrando uma ceninha, outra ceninha... todo mundo pirando na empolgação! 1-O filme colocaria o Batman contra o Superman. 2-Daria continuidade ao filme do Superman e 3-Seria o primeiro passo de integração entre elementos do Universo DC no Cinema, ideia em que a Warner estava beeeem atrasada.


Agora o segundo Vingadores, diferente do primeiro, foi meio difícil de digerir, não foi? Ele era continuação de: "Homem de Ferro 3", "Thor 2", "Capitão América 2" e "Guardiões da Galáxia". Os dois primeiros nem sequer tiveram influência pro universo compartilhado, só o Éter lá do Thor que ia colaborar para aquela manopla do Thanos (que eu me lembre, faz tempo que assisti...). Então o que ficou esquisito? O Hulk que não teve filme solo, o Tony Stark que não teve suas transições e crises bem retratadas, o vilão Ultron, que diferente do Loki não era de um filme anterior, e os personagens Feiticeira Escarlate, Mercúrio e Visão, que foram colocados às pressas, acabaram forçados. O problema de todos esses personagens, desde os heróis principais e famosos até o Visão, era que eles não convenciam. Adivinha o que aconteceu em Dawn of Justice?

- INTERLÚDIO -


As outras duas possíveis referências que eu posso usar dependendo do caminhar do texto são filmes como "Freddy vs Jason" e "Alien vs Predador". Se tratam de ícones populares se enfrentando. E mesmo eu sendo bem mais novo na época, me lembro direitinho, na época não se tratava de você gostar ou não de filmes de terror, era Freddy vs Jason, você ficava meio impelido a assistir pelo hype. A mesma coisa com Alien vs Predador. É a mesma coisa agora, com o grande público, é claro. Diferente do Homem de Ferro e o Capitão América, por mais que a pessoa não seja fã ela conheceu o Batman e o Super Homem em algum momento da vida em alguma série ou filme que viu na TV, mesmo que a pessoa seja uma velhinha, ela não é estranha à ideia, e essa parte do público também tem ficado meio curiosa com o que poderia sair de Batman Vs Superman, sendo exatamente como esses exemplos que eu citei agora.


- FIM DO INTERLÚDIO -


Parte II - Quem é o culpado?

Tente adivinhar qual vilão será revelado quando o Fred e a Daphne tirarem a máscara do Zack Snyder.


Supondo que você concordou com boa parte das minhas afirmações, essas comparações com Vingadores vão me ajudar a explicar. Vou falar dos personagens primeiro. Todo personagem da DC precisava ser introduzido ao cinema, todo, pois eles não tinham nenhum filme e os que tinham era melhor fingir que não tinha. A única exceção era o Batman, mas a trilogia do Christian Bale estava fechada, então cataram o Ben Affleck, que muitos inocentemente acreditaram que seria o problema do filme.


Sua origem é apresentada de novo, mesmo que de forma breve. Claro que não houve todo aquele treino ao redor do mundo do Batman Begins, mas mostraram ele quando criança e tal. Mas ele e o Lex Luthor... outro icônico personagem inédito nessa versão, foram PESSIMAMENTE apresentados. Não há impacto. Não há um tom de lenda, de épico, como sentíamos com a primeira aparição de personagens nos filmes do Batman ou na série do Demolidor. Não há. Eles são colocados de forma muito ruim. Mas eles ficaram ruins? Mais ou menos. O interessante é como Ben Affleck interpreta o Batman frustrado, coroa e odioso muito bem, enquanto o Jessie Eisenberg que tanto pareceu polêmico, surpreendentemente interpretou pra caralho com o Lex Luthor. O Jeremy Irons fez todo seu dever de casa como mordomo Alfred, ficou muito bom, mesmo a relação entre os dois amigos não sendo tão forte ou cativante quanto na última trilogia. Mas tudo no filme é ruim. Como a ideia de colocar o Batman e o Superman pra se enfrentarem com o Luthor de fundo é muito boa, e ainda há bons atores trabalhando bem, me pergunto de quem é a culpa da atrocidade?!

A-Zack Snyder
B-David S. Goyer
C-Christopher Nolan?
OBS.: O filme foi muito ruim, não tá dando pra culpar nem o hype, infelizmente.


Quando o problema é assim muito geral, dá a impressão que a culpa é mais do diretor, o que me deixou muitíssimo surpreso. Tudo bem que no "Homem de Aço" havia uma mãozinha do Christopher Nolan, mas ele também não era nenhum inútil! Havia adaptado com muito compromisso e identidade os clássicos "300" e "Watchmen"; além do "Sucker Punch", que eu também curti muito, apesar da recepção negativa.


E o David S. Goyer também tá longe de ser má companhia. Será possível que foi falta do Christopher Nolan? O filme do Superman tinha tanta cara do Snyder. Bem, voltando aos personagens, são absolutamente todos mal introduzidos. Por muito tempo quase que só aparecem coisas que você já sabe que vão aparecer e a trama não anda de jeito nenhum. Aliás! Ela não só não anda, como nem se apresenta decentemente! Há nada muito claramente concreto que ligue os diferentes pontos do filme, não há um bom caminho que se siga, a estória fica toda estranha e separada! Há muitas cenas que não fariam a mínima falta. Eles desperdiçam tempo e efeitos especiais com uma porrada de coisa que não precisava mostrar. Passa metade do filme e ele podia começar lá, porque absolutamente TUDO que aparece antes é absolutamente dispensável. O enredo é o que você já sabe, o Batman e o Superman vão se enfrentar e eles vão dando pistas do que levará à Liga da Justiça.
OBS.: Pistas HORROROSAS, só não explico porque estaria dando spoiler.


É não é só lento, chato e vazio como nem sequer faz sentido algum! O filme é completamente maluco, mas não por ser ousado! É porque ele não faz sentido mesmo. A cena do deserto, que já havia sido confirmada como um sonho do Batman era o que eu mais queria ver, no filme do Superman tinha aquele momento em que ele falava com o Zod em Smallville e começava a afundar em um mar de caveiras temendo a destruição da Terra. Eu achava aquela cena muito forte. Aqui deve haver uns cinco sonhos ou alucinações e são as coisas mais aleatórias possíveis. Não demorou muito e eu estava esperando que em algum momento o Mistério ou o Espantalho se apresentassem como inimigos principais com suas habilidades de alucinações. Acredite em mim, o Mistério não seria tão sem sentido nesse filme quanto o Flash e o Aquaman, mesmo sendo um vilão do Homem-Aranha. Pelo menos ele explicaria que foi tudo uma alucinação.

- INTERLÚDIO -


Um dos comentários pré-filme que mais havia me chamado a atenção era um do ator Henry Cavill, dizendo que Snyder pegava os universos do Batman e do Superman e explodia um contra o outro. Alguém deve ter traduzido mal do kryptoniano, porque não há um único vilão ou parceiro do Batman; apenas menções ao Coringa e o Jason Todd já vistas nos trailers.


Estranhíssimo, já que acreditávamos que personagens ignorados pelo cinema como Robin, Oráculo e Asa Noturna poderiam aparecer. O que falar então da lista de vilões que só haviam sido mostrados com aquele visual de Carnaval nos Anos 90, como Charada, Hera Venenosa e Sr. Frio? Não colocaram ninguém sendo interrogado ou fazendo reféns porque quiseram, cena inútil pra substituir tinha de sobra. Personagens que foram confirmados no passado como Sr. Zsasz e Amanda Waller simplesmente não estão no filme; assim como não há relances do Departamento de Polícia ou do Asilo Arkham. Nada de Charada ou Coringa enchendo o saco sussurrando de uma cela, algo que me parecia bem provável já que eles resolveram colocar o Batman com um universo já feito.

Mas isso é o que não teve.

Vamos voltar ao que teve.

- FIM DO INTERLÚDIO -


Parte III - Personagens

Os mais ricos heróis e vilões, mas cartas desperdiçadas?


Batman: aparece o filme inteiro como um biruta desestruturado. Claro que sempre houve a questão do Batman ser insano, mas aqui ele só é insano e os sonhos perturbados dele que colocaram foram a pior coisa possível. Como eu disse fiquei esperando o Espantalho (ou mesmo o Mistério) aparecer pra explicar. Se por um lado parecem incapazes de colocar um Homem de Ferro realmente perturbado nas telas, por outro o Batman perturbado ficou mal-feito.

Superman: Como já sabíamos, o personagem tem que lidar com as consequências de ter sido apresentado à sociedade justamente com o ataque devastador do General Zod. Eles enfiam mais um problema social em que ele se envolve, e fica muito complicado de entender a opinião pública, é tudo muito mal apresentado, a sequência das cenas é horrorosa, você não pega de uma vez o que afinal está rolando (talvez por estar rolando nada concreto?) e dessa forma vai parecendo por mais de metade da estória que tudo que você viu é uma perda de tempo, e as coisas só começam realmente a andar quando Lex Luthor se revela como vilão e o Batman e o Superman vão finalmente sair na porrada.

E afinal, o que acontece antes?


Engraçado, é até difícil de explicar porque faz sentido nenhum! O Batman e o Alfred estão investigando uns crimes para chegar em um problema maior que pode representar verdadeiro perigo. As investigações além de serem chatas pra cacete teve muita gente que nem entendeu, tamanha a irrelevância e mal desenvolvimento das tramas particulares.

Lois Lane: continua, como no último filme, uma jornalista meio além, se metendo em questões militares secretas, e agora já sendo namorada do Superman/Clark Kent. Não é a personagem mais interessante do filme, afinal estamos falando de Batman Vs Superman, mas passa longe de ter sido um dos problemas do filme. A estória realmente tem um vilão e esse é...

Lex Luthor: Batman, Superman, Lois Lane, Mulher-Maravilha... Luthor é um problema pra todos eles. Optaram por não introduzi-lo como um personagem comum do elenco, já que em muitas estórias ele chega a se apaixonar pela Lois Lane e realmente se meter socialmente com Bruce Wayne e companhia. Aqui não, ele ocupa puramente o post de vilão do filme. Diferente do que tem ocorrido em TODOS os filmes de super-heróis, aqui Luthor apresenta ameaça e complexidade, mas...

ding ding ding ding ding ding ding ding ding!


ding ding ding ding ding ding ding ding ding!!!!!!

Ele é loco! Ele é muito mais louco do que inteligente! ELE PARECE QUE É UM VILÃO DO BATMAN! Antes de invejoso, orgulhoso e inescrupuloso, esse Lex Luthor é completamente biruta e psicopata. Não há em qualquer momento uma explicação decente para a loucura dele; como Coringa e Duas-Caras, que se apresentam como agentes do caos, desacreditados da ordem da sociedade, esse Lex Luthor aqui é simplesmente maluco, há cenas em que ele nem sequer consegue falar!!! E não considero isso um spoiler, pois em nenhum momento a loucura dele é justificada (o que é tão bem feito com os dramáticos e expressivos vilões do Batman, até mesmo o último Bane).


Ele então não tem qualquer razão racional para se opor aos heróis, suas explicações são completamente baseadas na sua loucura, que não posso deixar de dizer, mesmo não convencendo foi tremendamente aprofundada. Luthor aqui se mostra fazendo referências a ocultismo e ideias nietzschianas, se colocando na trama com todo um subjetivismo diabólico que se apresenta com tremenda clareza. É o que eu tô falando! O filme não é louco por ter ideias legais, é por ter nada a ver! Foi a primeira vez que em um filme desse tipo o vilão faz alusões filosoficamente satânicas, mas mãe do Céu! O Lex Luthor não! Ficou nada a ver! Não é um filme do Constantine, não é um filme do Etrigan ou da Ravena, não é o filme da Liga da Justiça Sombria, fez sentido nenhum!!! Como muitas coisas pesadas do filme inteiro que se apresentam apenas para chocar, mas são super desnecessárias, não é como uma morte do tio Ben ou do Capitão América, é uma técnica de choque burra! Chega a parecer que é um filme de terror, não de aventura.


Tem mais problemas com esse Lex Luthor, mas se eu me estender demais o texto vai acabar sendo sobre ele, e há mais elementos pra levar em consideração. Por fim, ressalto a surpreendente atuação de Jesse Eisenberg, que pareceu uma escolha tão esquisita, no fim o garoto fez por merecer, e em um filme melhor poderia ficar lembrado como um grande vilão do cinema, tanto quanto os que vimos nos filmes do Batman. Uma pena que aqui a produção inteira estivesse fumando alguma coisa muito pesada pra fazer o que fez (ou talvez estivessem usando o gás do Espantalho pra ficarem doidões mesmo, é a única piada que consigo fazer).


Mulher-Maravilha: um dos maiores ícones da cultura pop, mas que por alguma razão (ou algumas razões) não possui qualquer fã que a conheça mais a fundo. Qual é o meio que mais leva Batman e cia. a ficarem populares...? O Cinema! Os filmes! Então agora era a primeira vez da nossa querida amazona! Uma personagem que tem riqueza criativa e carisma pra dar e vender, mas infelizmente não é tão bem-utilizada, na opinião dos próprios desenvolvedores de HQs, como Grant Morrison e Brian Azzarello.


Assim como Batman, Super-Homem e Lex Luthor, a Diana não aparece dando aquele tcham de "Uou! É a Mulher-Maravilha!", o filme não trás esse tipo de impacto em qualquer momento. Caso você não tenha pego exatamente o tipo de sensação que eu to falando, me refiro a àquela cena do Soldado Invernal que o Nick Fury diz que nessa linha de trabalho você precisa manter os dois olhos abertos, quando o Hellboy arranca os chifres na cara do Rasputin ou mesmo aquela olhada que o Batman e o Hulk dão pros seus inimigos e você sabe que eles sentiram apertar os genitais. Aqueles momentos em que você vira pros seus amigos e todos dizem "Noooooooooooossa!!!" como se tivesse rolado um puta gancho em uma luta de boxe. Essa teatralidade não está presente, mesmo havendo os melhores personagens possíveis pra isso. É um detalhe, mas é nos detalhes que se encontra a beleza.

Nem fodendo, não rolou.

A personagem em sua identidade secreta ficou a coisa mais esquisita. Antes de colocar a armadura ela parece mais a Mulher-Gato do que a Mulher-Maravilha. Em sua trama particular ela quer pegar um arquivo (uma foto) polêmica sobre o seu passado que procura esconder, e é encontrada constantemente pelo Batman em eventos chiques, se mostrando bem independente e mais esperta que ele...

Isso aí, só observe.

Poderiiiiiiiiiiiiia ser só uma coincidência, mas a Mulher-Maravilha, em sua estória, vem ao mundo dos homens como uma embaixadora da Paz. É claro que essa não é a única característica dela, também é uma guerreira, uma heroína, detetive, antropóloga, escritora... afinal ela é amazona/semideusa, rsrs, teve tempo de vida pra isso. Mas se ela não foi embaixadora da Paz em um filme cujo foco inicial era o Super-Homem e o General Zod estarem se socando entre prédios, levando até a discussões na TV e nos tribunais, quando que ela vai agir como embaixadora da Paz? Quando?! Essa não é a Mulher-Maravilha não, é um dos vários erros incompreensíveis do filme, e ressalto o "incompreensíveis" porque os envolvidos não eram novatos no território e os próprios atores estavam revelando conhecimento do material original em entrevistas, o que nem sempre acontece, então dava uma impressão bem otimista.


É barato. Por fim, quando a amazona parte pra porrada suas características não melhoram nada. Ela tem lá seus icônicos braceletes e laço da verdade, que qualquer um que assistiu o desenho do Super Amigos ainda de pijama deve lembrar, mas ela não demonstra suas características heroicas de responsabilidade e determinação como uma guerreira, ela parece uma aventureira no naipe mochilante. Uff, chega. Assim como Luthor, dava pra falar mais, mas vamos em frente, acho que já ficou claro que foi muito ruim e se mostra cada vez mais inevitável que esse texto vai ficar maior do que eu gostaria.




Parte IV - Lutas, trilha sonora, a produção

Milk-shake de merda ou muita Netflix? Qual é afinal a fórmula da insanidade que leva a um filme desses? Conheça o polêmico caso do charutinho do Espantalho.


Trilha sonora: fraca de doer. E mais uma vez, se tratava de Hans Zimmer, que não era novato no território (mas devia tá puxando um charutinho do Espantalho também). Houve apenas dois pontos da música que me atraíram. Alguns momentos sensíveis em que voltamos à trilha do filme do "Homem de Aço", quando o Superman conversa com pessoas queridas a ele sobre dúvidas de sua existência e alguns toques teatrais quando Lex Luthor estava em cena, soltando aqueles toques mais pesados pra dar o drama do vilão. É um clichê narrativo bem comum em filmes antigos, mas eu gosto quando é trazido de volta com equilíbrio em filmes novos, lembro de ter a impressão que aconteceu bastante no último Planeta dos Macacos.


Por alguma razão resolveram colocar uma guitarrinha no lugar de alguma ópera épica quando mostrava a Mulher-Maravilha. Nada contra querer dar uma descolada na personagem, mas porra...

Lutas: são mal-feitas como todas as cenas, e eu não achava que isso era possível depois do que havíamos visto em "Homem de Aço". Há duas sequências em veículo que são péssimas. Os apetrechos do Batman não nos fascinam como nos outros filmes (até mesmo os antigos) e a culpa parece cair pra direção. Não tem muito o que explicar, é só comparar com as perseguições dos outros filmes e notar como essas conseguiram ser muuuuuito piores.


Quanto ao mano-a-mano, demora bastante pra começar mesmo, sobrando para aquelas lutas que venderam o filme. O problema tá na direção mesmo, esse Batman luta melhor que qualquer outro que já vimos, mas adianta nada se o Snyder mostra ele lutando por um tempo enorme sem alternar com mais nada. Depois de Mad Max não dá pra perdoar, mas todo filme de super-herói já foi melhor que isso. Chocante. O Batman contra o Super-Homem ficou legal, mas na hora da luta contra o Apocalypse houve tanto efeito exagerado que nem dava pra ver direito o que acontecia. E o Lex Luthor não lutou.




Parte V - As referências Vingadoras

Ou você pegou as referências no início, recruta, ou terá que fazer seu treino todo de novo com Capitão América.

E olhe essa língua!


"A Origem da Justiça" deveria ser parecido com o primeiro Vingadores. Não necessariamente no teor, mas no mínimo na sua sequência, mesmo que fosse mais sério e realista. Mas não, ele apresenta semelhanças com o segundo Vingadores, e esse é o problema. Personagens que não te convencem, tentativa de subtramas que cansam e parecem desnecessárias por causa do problema maior... Por fim lembra algum filme de monstro gigante, em que você fica esperando a prometida cena legal do final, enquanto assiste cenas e mais cenas que te interessam em nada, você pularia se pudesse.

E não, "O Homem de Aço" não havia sido assim! Agradando ou não, ele explorava uma ideia e procurava discuti-la conforme vários elementos poéticos eram apresentados. Já Batman V Superman parece uma enorme perda de tempo, que fecha com uma cena que te levará direeeeeeto pro final do "X-Men 3", lá de 2006.


Falando em outras decepções, apliquemos as referências novamente, soldado. "Homem-Aranha 3", "Homem de Ferro 3", "Quarteto Fantástico"... no caso desse filme a queda foi muito maior porque tinha tudo pra ser legal; e a quebra de escalas! Um novo nível de qualidade também era uma possibilidade, visto que já era o que tinha rolado em "Man of Steel". Interpretando pela lógica expectativa-resultado, esse filme foi tranquilamente o pior de todos.



Parte VI - Imitando Nolan?

Por que, aliás, ele tinha que nos deixar?


Essa já é uma possibilidade que um amigo meu levantou e me pareceu fazer muito sentido. O Coringa, o Duas-Caras, a morte da Rachel, a derrota do Batman; os filmes do Christopher Nolan foram bem chocantes em comparação com outros do "gênero super-herói". Esse novo filme consegue ser mais chocante que todos, mas as razões eu já expliquei, e elas não convencem, ainda ficam horrorosamente desencaixadas. Mais um exemplo é o jeito doentio do Batman, ele parece um maluco psicótico e muito pouco um herói. Não há equilíbrio, como na "Piada Mortal", que a maioria conhece. Ele apresenta claríssimas referências aos excelentes gibis do Miller, mas aqui ele parece um monstro, não um herói trágico, faz nem sentido comparar com as HQs. Há coisas horríveis, pesadas e obscuras, mas comparo novamente com um filme de terror, eles tentam te chocar só pra te chocar. Claro que não funciona e ainda fica esquisitíssimo.


Enquanto a trilogia Cavaleiro das Trevas te levava pra vários lugares com uma trama rica, livre (mas jamais apelativa) e boa de acompanhar, "Dawn of Justice" faz o oposto, parecendo descontrolado e mesmo assim quase não tirando reações do público. Apesar do ótimo trabalho do elenco, os personagens estão todos meio estranhos, parecendo improvável que venha sair algo bom deles. Uma pena, porque eu adoraria finalmente ver um filme que envolvesse Apokolips e os Novos Deuses no estilo do Homem de Aço, mas agora ficou claro que isso nunca vai acontecer. Qual a esperança de ver um filme bacana antagonizado pelo Brainiac se eles deixaram a Mulher-Maravilha parecendo a Mulher-Gato e o Flash parecendo o Sandman? o.O


Uma pena, realmente. Snyder parecia tão certo e visionário quanto a sua forma de mostrar esse Universo, e não era um zé ninguém, já tinha trabalhado com adaptações antes! Sequenciar o "Homem de Aço" falhou. Iniciar o Cineverso DC também falhou, pois foi muito pior que o Vingadores, o Homem de Aço ou mesmo o autossuficiente Batman do Nolan. Fazer um bom filme também falhou, já que esse é um do filmes caros mais mal-feitos que eu já vi. E pra não desperdiçar a referência ao "Alien vs Predador" que deixei no início, nem desses "Dawn of Justice" ganha, pois sua estória e narrativa são nada divertidas, ou sequer bem-feitas. A única coisa que deve ser lembrada é a espera seguida da decepção. Temos um filme que não presta pra nada, apenas afundar boas ideias que não devem ressurgir tão cedo (talvez nunca ressurjam). Não houve nascimento da Justiça, não é um filme sobre heróis, escolhas morais ou sacrifícios; é uma sequência de pessoas psicóticas se enfrentando e o Lex Luthor é o psicótico master, tendo como única promessa maior eventos mais interessantes que viriam no filme da Liga da Justiça. Me surpreendeu que as previsões pessimistas, que em sua grande maioria eram propagadas por inegáveis haters da DC, acabaram se concretizando totalmente. Se eu fosse supersticioso estaria até dizendo "viu só? Vocês ficaram falando tanto que aconteceu!"




Parte VII - A "Cultura Nerd"

Mas começando com uma história pessoal do autor.


Com exceção do início do post, evitei deixar questões pessoais no texto, então guardei tudo pra última parte caso você não tivesse o mínimo interesse (a análise já terminou). Quando eu era adolescente, o que não faz taaaaanto tempo assim; eu e alguns amigos que éramos considerados da tribo "nerd" gostávamos recorrentemente de argumentar como, contrário à opinião pública daquela época, a "cultura nerd" não era estúpida ou infantil, muito pelo contrário. Praticamente todo mundo achava as coisas que a gente gostava idiotas e não tínhamos como concordar. De jeito nenhum! No colégio havia uma série de livros que tínhamos que ler de uma vez (cujos quais os professores contavam o final, nunca entenderei isso) e de resto, o que a mídia e a opinião pública apoiava culturalmente eram aquelas músicas que tocam na Globo, nos clipes do Multishow ou nas baladas (as monossílabas e onomatopeias), novelas que são semelhantes a filmes pornográficos, com uma ou outra questão sócio-existencial, mas a maior parte das vezes apenas tentando reforçar que se deve continuar vivendo da forma mais pobre possível, reality shows e videogames repetitivos. Não pareciam coisas muito inteligentes e não eram atraentes; ainda assim a "cultura nerd" era vista como uma coisa retardada. Então vamos lá, meu caro ANT, o que é, ou era, a "cultura nerd"?


Sem explicações, vamos definir por exemplos! Exemplos da "cultura nerd"! Não todos! Mas muitos críticos especialistas definiam HQs e videogames como "sub-cultura", seja lá o que subcultura significa (uma mídia inteira=uma sub-cultura?). Então, sem mais delongas, exemplos da "subcultura nerd"!

Claro que é tudo uma transformação de infinitas influências passadas, mas a subcultura nerd acoplava elementos científicos (Exterminador do Futuro, Quarteto Fantástico), espirituais (Dr. Estranho, Promethea), greco-mitológicos (God of War, Mulher-Maravilha), medievais (Senhor dos Anéis, Dark Souls), bíblicos (Nárnia, Capitão Marvel), nórdico-mitológicos (Ragnarok, Thor), urbanos (Homem-Aranha, Demolidor, Batman), cartoons (Sonic, Crash Bandicoot), poéticos, filosóficos, enfim! Resumindo, o que é (sub)cultura nerd?! É só cultura!!! É a bendita cultura! A bendita cultura sob uma etiqueta!


Uma etiqueta utilizada conforme a conveniência. Como fica claro, e em coisa de uns 7 anos, até hoje ninguém me convenceu do contrário. Uma etiqueta utilizada conforme a conveniência em uma diversidade cultural imensa. Não importa se você se encaixa no biotipo tímido de aparelho, óculos e dificuldades de socialização; se você joga cartas, RPG, xadrez, dança, luta, medita, escreve, desenha, estuda, faz qualquer coisa que fuja do conveniente, o seu comportamento recebia o selo nerd, dando uma impressão limitadora à tudo que não era conveniente. Hoje em dia "(sub)cultura nerd" é legal e celebra-se "a melhor época para ser nerd", depois que Big Bang Theory e Vingadores puxaram toda essa onda que nos rodeou.


Antes disso, quando "nerd" ainda era um belo de um termo pejorativo, eu e meus colegas tentávamos não nos enganar, e realmente nos aprofundávamos em entender porque aquelas coisas que gostávamos eram tão relevantes e atraentes pra nós, diferentes das outras. E desde criança, cara, eu gostava tanto do gibi do Homem-Aranha porque no final quando ele e o Jameson conseguiam se salvar da bomba o editor do Clarim Diário quando sozinho admitia pra si próprio se sentir impotente e inferior perto de super-seres, convencendo a si próprio todos os dias que eles eram vilões e estavam o humilhando com seus atos fantásticos. O gibi do Capitão América era bacana porque o amigo dele, Armadilho, tentava se matar no final porque havia sido enganado pela mulher que amava, e ao falhar em se jogar do prédio pedia pro herói deixá-lo só em sua tristeza, e mesmo criança você percebia a decepção no rosto do Capitão, como ele se sentia triste de não poder alcançar o amigo e ajudá-lo em sua tristeza. Era muito recompensador ser levado a sério com aquelas estórias! Você via nada assim assistindo "O Laboratório de Dexter" ou "A Vaca e o Frango", eram coisas descompromissadas! Os gibis da Marvel eram artisticamente compromissados! E mesmo sendo criança, você já era bom o bastante pra isso, e conforme crescia havia ainda mais!


Claro, que a "(sub)cultura nerd" nos entretinha e distraía, como tudo nesse mundo pode fazer. Mas ela nunca, jamais, parecia estranha e retardada. Ela só tem parecido... agora. Os fatores fantásticos das estórias facilitavam os níveis e locais que elas nos apresentavam, eles não estavam lá apenas para sermos bobos nos cativando com feitiços, golpes legais, monstros e coisas afins que não existem. Eram locais onde tudo era possível, e como extra isso ainda permitia que nossos mais impossíveis sonhos pudessem sobreviver ficando guardadinhos lá dentro, se recuperando quando haviam levado muitos danos do mundo real.


Sabe, não era tão ruim assim ao ponto de sugerir que você tivesse que mudar muito para ter um comportamento ou uma cultura mais adequada. Mas todo esse radicalismo já mudou hoje em dia. Eu continuo acreditando no uso do termo "nerd" como uma ferramenta para etiquetar conforme no que se baseiam as conveniências. Não acredito em um subtipo cultural feito para agradar uma determinada tribo chamada nerd. Mas hoje nem é mais essa coisa "do pântano", é legal. De 2012 pra cá Star Wars, Marvel e DC estão na moda! Quero dizer, famosos sempre foram, mas você sabe, há todo esse merchandising. E a notícia é que estamos na época dos nerds, a ascensão da cultura nerd. Realmente cara, temos até uma Comic-Con anual no nosso país, ano passado veio até o Frank Miller...


Cara, eu não quero ser hipster, pagando de ser o único que não gosta do que tá rolando, e tampouco ser o cara que estraga a festa, com todo mundo aguardando o novo filme do Harry Potter e do Star Wars e querer estragar a alegria de todo mundo falando que tá horrível. Não é isso, de jeito nenhum. Mas tem algo que soa muito mal quando dizem que estamos vendo a evolução/ascensão/ou qualquer coisa do tipo da "cultura nerd". Se for a popularização da "cultura nerd"... ok, mas ascensão???


Senhoras e senhores... eu demarcarei o ano que saiu o filme dos "Vingadores", 2012, como o ponto simbólico dessa dita conquista da "cultura 'nerd'". Nos últimos anos eu vi o livro "O Hobbit" ser adaptado em três filmes de três horas no cinema. Filmes que na maior parte do seu tempo não diziam nada. Eu vi algumas das mais famosas tramas da Marvel serem utilizadas para atrair a atenção do público em filmes que não se comprometeram artisticamente com nada e chegaram até a debochar do público. Eu vejo desenhos animados clássicos sendo filmados em live-action e atingindo enormes bilheterias para que a Disney não perca os direitos autorais enquanto os filmes do Hellboy acabarão sem uma última sequência.


Nos últimos anos vi as três franquias de videogames que eu mais gostei de acompanhar, ou tentei acompanhar, "Metal Gear", "Resident Evil" e "Final Fantasy" chocantemente terem sequências genéricas e vazias, sem uma razão clara pra isso, com seus produtores originais sendo demitidos e caindo no esquecimento. Vejo pessoas com máscaras de "V de Vingança" sendo movidas por malignos líderes corruptos a celebrarem a própria alienação fingindo que estão lutando por um país melhor. Vi "Star Wars" e "Jurassic Park" ressurgirem do nada alcançando enormes bilheterias e ainda espero alguém me explicar o como. E por último, depois de quatro anos de espera eu assisti "Batman V Superman: Dawn of Justice", e chega a ser difícil explicar porque ele foi tão ruim.


"Batman V Superman" foi tão ruim, mas tão ruim, que se perguntam se já começaram a filmar a Liga da Justiça ou ainda dá tempo de tirar o Zack Snyder. Depois dessa, eu particularmente não sei como ele vai conseguir fazer outro filme tão cedo. A vulgarização de tudo que um "nerd" viria a valorizar não me soa como o momento perfeito de um suposto movimento (relembrando que continuo não acreditando na forma que esse movimento é apresentado) quando este chegaria no seu auge. Bem no momento que essas obras atingem um alcance inimaginável anteriormente, elas se apresentam bobas e descompromissadas, fortalecendo mais do que nunca o estereótipo que pairava no passado nem tão distante. Chega a ser irônico levando em consideração como Batman, Superman e Homem-Aranha nunca haviam parecido tão reais! Isso infelizmente é só a superfície, não tenho dúvida que era melhor ainda quando os X-Men usavam aquelas jaquetas de couro e o Homem-Aranha enfrentava o Duende Verde que parecia um power ranger do inferno naquele filme do Sam Raimi.


Eu fechei um círculo que já havia sutilmente se iniciado perdendo completamente a animação por todos esses filmes: Dr. Estranho, X-Men, Esquadrão Suicida, da Mulher-Maravilha, da Guerra Civil e todos os outros. A "era dos 'nerds'" está parecendo bem sem graça culturalmente, mas bem sem graça MESMO. Nem os videogames tão se salvando, só se você procurar por jogos hipster/alternativos/independentes, caso contrário, é comum sentir um ar repetitivo. Espero ter fechado o arco desse longo texto também, que iniciei mencionando a frase do meu amigo, e que o texto não tenha ficado muito cansativo tendo esse tamanho tão grande. Por outro lado, agradeço de ter a disponibilidade desse blog para registrar um texto desse tamanho. Como o final foi bem pessoal, vou aproveitar e deixar um conselho.


O mundo está sempre acabando, procurem não se enganar pra poder acreditar em vocês mesmos e não se deixem convencer pelas outras pessoas se isso não parecer certo. Falo dessa forma porque sinto que é o momento de me afastar de vez desses filmes, então não devo escrever sobre eles tão cedo novamente, vou procurar minha água em outro rio. Claro que pode ser um exagero, eu vi o filme ontem, mas esse texto ficou grande demais e um dos maiores dilemas comuns da atualidade é como administrarmos nosso tempo, tenho que dar um jeito no meu também. Um abraço, espero não ter viajado muito, mas de qualquer forma acabamos aqui.

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