CAPITÃO AMÉRICA E OS VILÕES QUE FAZEM “BACK UP”


Em um preview liberado (por coincidência, no dia que Jack Kirby faria 100 anos) da “conclusão” de “Secret Empire”, atual megaevento da Marvel, mostra a imagem acima, com o “Steve Rogers bom de sempre”, retomando seu posto á base de uma martelada divina. Seu algoz até então, era dado como o próprio Capitão, agora um vilão que controlava a Hydra – Em um claro e previsível recuo editorial. Quando essa novidade chegou, pelos roteiros de Nick Spencer, a internet “quebrou”. Aquela imagem ao final da edição #01, com um alto e bom som pronunciado “Hail Hydra”, ameaçava a próxima tempestade naquele universo. “Fãs” em protesto queimaram exemplares da mesma, Crhis Evans se espantou, e até turistas como Nando Moura lançaram vídeos como “cagaram o Capitão América”, atribuindo um viés doutrinário de esquerda...





O que os descontentes não notaram, é que desde sua rendição ao termino de Guerra Civil, a necessidade com o personagem era não trazê-lo ao “status quo de outrora” tão cedo, e vendo hoje calmamente, fazem mais de dez anos. Esse tipo de manobra não remete tanto aos dias de hoje, basta um pouco de pesquisa para adentrar no fato que o Capitão América em sua concepção original de Simon / Kirby sofreu um “reboot” em plenos anos 70 para não ficar “datado”, deixando os ideais mais conservadores de lado, para ser um “liberal humanista”, e ainda explicando que a versão “caçadora de comunistas” nos anos 30 aos 60 seria “apenas” outro experimento feito no período de hibernação de Rogers, que com o tempo perderia o controle e atingiria a insanidade. Entretanto, esse “Cap fase 2”, que tão bravamente lutou aos extremos com seu irmão de guerra Tony Stark seria mais um numa leva atual de ser promovido de “homem fora do tempo”, para “homem fora do próprio título mensal”. Começando com a “morte” dele, passando o escudo a seu antigo parceiro Bucky (muito famoso hoje em dia graças ao longa Cap. 2 – O Soldado Invernal, do que o próprio arco de Brubaker que deriva), e por cerca de 3 anos – na nossa vida real, não na realidade dos gibis – o sidekick foi bem recebido pelos leitores, sendo quase uma exceção a repulsa por “jogadores do banco que pegam vagam titulares”., Eu lia mensalmente “Novos Vingadores”, e apesar do meu estranhamento inicial, o cara se mostrou muito bem aplicado ao contexto, com os demais na época “fugitivos da Lei”. É claro que Rogers voltou da morte, em uma trama em sua mensal que até hoje não me prestei a ler, liderando – e unindo de volta os lados separados pela passada treta – contra o irrefreável Norman Osborn, agora uma espécie de diretor de uma SHIELD subversiva, e até com um Super-Homem esquizofrênico como segurança, conhecido como “Sentinela”. Osborn atingiu seu ápice como vilão durante esses anos de ausência do mito, de Fury, e até mesmo Stark. O “ex-duende” havia saído de seus confrontos particulares com o amigão da vizinhança, e virado uma pedra no sapato até mesmo dos vilões.
Falsos Capitães já existem a rodo há décadas.

Após toda uma revanche, Steve Rogers vira diretor de uma restabelecida SHIELD, e claro, a lei do registro é excluída da equação. Era todo um longo arco fechado, e excetuando-se as perspicazes críticas sobre lacuna de poder, leitores que tinham recebido a promessa de “grandes conseqüências que ecoariam”, recebendo um belo corretivo nelas, algo como “vamos fazer de conta que nunca aconteceu”. Do ponto de vista do mercado, era um recomeço para trazer mais liberdade e frescor aos enredos, do ponto de vista de quem lia, era (e ainda é) só um sentimento de acompanhar histórias (que tanto se orgulham alguns!) do “universo principal”, saindo com o gosto de leitura á lá “o que aconteceria se...?”.

Sobrou pro Buck em FEAR...




MARK WAID - O Restaurador!
“Fear” (“O Próprio Medo” no Brasil) fechou as pontas soltas com todos os deuses nórdicos morando na Terra, em tempo que “pela porta dos fundos” dava cabo de Bucky Barnes, mandando o diretor da SHIELD de volta para a ação, só para menos que trinta números depois envelhecer e passar o manto para Sam Wilson, até então seu grande aliado Falcão, mas transformado em um dos rostos da “nova mudança”. Sucederam polêmicas sobre queda de vendas e perda do posto para DC (que também entrou forte com o Rebith), a Marvel ficou o pé com sua questionável “Secret Empire”, cuja ultima edição foi lançada a poucos dias. Meses antes da “conclusão”, já havia divulgações de Mark Waid ser o próximo escritor (obviamente tentando resgatar um pouco da essência), bem como anunciada “Generations”, com uma vaga promessa das coisas serem “como antes” – o que não se concretizou, e até mesmo “Vingadores pré-históricos” foram jogados aos ventos, mas nada parecia aplacar a fúria do público quanto ao Cap Hydra. É aqui que entra o “back up”, recurso ridiculamente eficaz perante tudo isso. Homem de Ferro Superior sofreu um após 9 edições de um Tony vaidosamente incontrolável (muito bem escritas por sinal, ponto de Tom Taylor), “Superior Homem-Aranha” idem. Um vilão se apossa do corpo de um herói, seja por troca de mentes, ou posse psíquica (algo feito pela primeira vez na editora em Quarteto Fantástico #10), e no alto de sua vilania, deixa o original “salvo” (!). O recurso já era uma piada velha em plenos anos 90, quando “matando seus principais” (o que foi uma, se não a mais marcante característica do mainstream dos anos 90, com a DC bem atrás), a “casa das ideias” tirou do bolso seu “Heróis Renascem”, e dado o fracasso do novo universo – que poderíamos chamar de pré-ultimate – reintegrou tudo, e cá estamos nós para a lição de tudo: não são os editores que deixam passar qualquer porcaria o grande problema de tudo, é o leitor, que fugindo de montar um panorama com tudo que consome,não traça um quadro do que é possível dentro de mensais! E por isso recorrem a essas falsas indignações, como se mudanças que não valeram pelos próximos 5 anos, ferissem profundamente sua honra, e vai queimar revistinhas ou fazer vídeos de desabafo, ou vir com o mais cômodo: “não leio nada atual, porque só sai porcaria”. Com um público assim, eu como editor, faria até pior.


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Até o próximo.



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