O Turco: a máquina que derrotou Napoleão no xadrez

Xadrez é um jogo intrigante e hoje já não é mais necessário ter outra pessoa para jogar com você, basta apenas ter uma máquina como um computador, um celular ou um videogame. Tais máquinas podem vencer até mesmo um campeão mundial com certa facilidade e não é raro a gente ouvir falar de campeonatos pelo mundo todo em que se disputam contra elas. Entretanto, essa podia ser uma realidade bem diferente há 2 séculos atrás, quando computadores nem sequer sonhavam em existir, não é mesmo? Se você pensa assim, saiba que está terrivelmente enganado. Havia uma máquina especial que jogava com tanta maestria que se tornou uma lenda!


   Inventada por Wolfgang von Kempelen, a máquina apelidada de "O turco" era composta de um gabinete com gavetas para guardar as peças e um manequim vestido como eles achavam que um turco se vestia na época. À frente do manequim se dispunha um tabuleiro de xadrez. Um braço móvel tinha uma mão na ponta que conseguia agarrar as peças com precisão e movê-las sem nenhum problema para qualquer parte do tabuleiro.


   Os olhos eram móveis e pareciam observar o tabuleiro e as jogadas dos oponentes, a cabeça podia balançar também. O Turco sempre fazia o primeiro movimento e sempre utilizava as peças brancas.  Há quem diga que ele podia até mesmo conversar com os oponentes com um tabuleiro de letras de até 3 línguas: inglês, francês e alemão.

   Em 1770, Kempelen chegou na corte da rainha Maria Teresa da Áustria e afirmou que sua máquina podia jogar xadrez com qualquer um. Ele abriu o gabinete e mostrou que dentro só haviam engrenagens, correias e que parecia mais um relógio do que qualquer outra coisa. No entanto, sua intenção era mostrar que não havia ninguém lá dentro, nem um anão que pudesse acionar os mecanismos e jogar. Então ele pediu que a pessoa mais intelectual da corte viesse à frente. Um nobre rapaz, o Conde Ludwig von Cobenzl, se apresentou e então começou a disputar a partida com o turco. Algumas jogadas depois e o Turco o derrotou com certa facilidade para o espanto de todos. Como era possível? Não só o Conde foi derrotado, como outros oponentes também em uma média de 30 minutos de jogo.


   Caso a Dama fosse ameaçada pela máquina, o manequim balançava a cabeça 2 vezes. Se o Rei fosse colocado em xeque, ele balançava a cabeça 3 vezes. Entretanto, em caso de um movimento ilegal, ele balançaria a cabeça e colocaria a peça no seu lugar anterior, fazendo uma jogada sua em seguida como forma de penalidade.

   Kempelen  então começou a fazer demonstrações por toda a Europa de sua engenhosa máquina. Às vezes ele era até mesmo pressionado a exibi-la contra a sua vontade. Intrigadas com o funcionamento da fantástica máquina, as pessoas traziam ímãs para ver se ela funcionava com pesos ou magnetismo, mas nunca descobriram algo do tipo. Também não eram raras as vezes em que o gabinete era investigado para tentar descobrir se havia algum operador e mais uma vez nunca encontravam nada. Farto dos assédios, Kempelen  chegou a desmontar a máquina uma vez no intuito de acabar com a fama, mas não adiantou. O próprio rei havia ordenado que fosse montada novamente e que fizesse um tour pelo continente.

   Ouvindo falar da máquina, Napoleão Bonaparte decidiu desafiar o Turco. O resultado não foi diferente: o Turco havia derrotado Napoleão com tanta facilidade quanto havia derrotado os outros oponentes anteriores. Disposto a uma revanche, desta vez Napoleão fez um movimento que favorecia a máquina. De repente o braço móvel esticou e se lançou sobre o tabuleiro, derrubando todas as peças. Tal movimento agressivo surpreendeu a todos na corte, incluindo o imperador francês.

   Apesar de parecer invencível, o Turco podia ser derrotado sim e de fato foi algumas vezes, mas nem assim o público desanimou. Todos queriam conhecer a incrível máquina que parecia ter vida!


   Houveram especulações de que a máquina fosse uma farsa, de que talvez um anão bem pequeno ou uma criança comandasse de dentro do gabinete. Há até quem acreditava que um veterano de guerra que tinha perdido as pernas poderia estar operando a máquina. Também diziam que podia ser uma ilusão de óptica que escondia o operador ou que um demônio estava preso dentro do manequim e era forçado a jogar. Kempelen apenas afirmava que era um mecanismo autômato e que não havia nenhuma manipulação humana por trás de tudo, ou seja, a máquina era totalmente automática.


   Não há nenhum esquema, desenho ou esboço que mostre como era montado o mecanismo do Turco e os desenhos que existem foram feitos por curiosos que sugeriam algumas alternativas de possíveis mecanismos, porém nenhum funcionava como o mecanismo original. Livros e artigos chegaram a ser publicados com teorias sobre o funcionamento da máquina e até alguns famosos nomes tentaram desenvolver protótipos e esquemas de mecanismos. Edgar Allan Poe era fascinado por ela.


   Após a morte de Kempelen, o Turco mudou de donos diversas vezes até ir parar no Museu chinês nos Estados Unidos e ser esquecido em uma sala. Em 1854 um incêndio no Teatro Nacional da Filadélfia alcançou o museu e destruiu para sempre O Turco, levando para sempre o segredo de uma das mais incríveis máquinas autômatas da história.

   Ficaram apenas as reproduções da máquina, mas nenhuma delas funciona exceto as que são operadas por um computador moderno. Muitas destas reproduções são protótipos baseados em desenhos de curiosos. Entretanto, há um homem nos Estados Unidos que afirma ter desenvolvido um protótipo bem fiel à máquina original. Ele diz ter levado cerca de 35 anos para desenvolvê-la e não está disposto a dividir seu segredo com ninguém por enquanto. Às vezes ele o exibe ao público e até permite que se jogue algumas partidas.

No vídeo abaixo é possível se ter uma ideia de como ele se movia.



O Turco até hoje é considerado uma das primeiras máquinas com inteligência artificial, mesmo que muita primitiva.

E você, acha que conseguiria derrotar o Turco?

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