GUERRAS PUBLICAMENTE EXPOSTAS - PARTE 1

Nos distantes confins do universo...



Nos limites da zuera...



Muito, muito longe da decência, da moral e dos bons costumes.



Um planeta em uma galáxia espiral desabitada gira em seu eterno movimento, em magnífico esplendor. 



O cenário onde se passaria o mais estranho e desnecessário dos acontecimentos...



AS GUERRAS PUBLICAMENTE EXPOSTAS!

Está escuro, não dá pra ver nada. A luz da tela de um videogame portátil ilumina o rosto com profundas olheiras de um garoto que, imóvel, segura seu DS. Ele está parado em pé jogando do lado de uma porta.

- Foi muita sorte ter encontrado um banheiro nesse escuro, Thomas... - ele falava com uma voz baixa e seca. Parecia uma criatura da floresta como é representada em filmes de fantasia. - Mas há quanto tempo você já está aí?
- Eu... já tô terminando... - responde uma voz baixa e sofrida. - Oh Deus...

- Avancem imediatamente. - Disse uma voz autoritária à curta distância. - As Guerras já vão começar.

No escuro era possível notar que haviam indivíduos formando algumas filas, como em entradas de jogos de futebol e shows de música, mas não era possível identifica-las.

- Mais rápido! - gritou a voz para o garoto que andava bem devagar jogando o seu DS. Uma garra mecânica de repente puxou o videogame de sua mão.
- Nããããão... - ele lamentava conforme o último resquício do que ele já havia dado algum valor se afasta.

- Aqui - ele ouve a voz autoritária quando a luz azul de uma pequena tela digital se acende ao seu lado.
- Você é Jack, lendário campeão multidimensional de League of Losers, detetive paranormal, Miss Esquisitice 2009, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, ganhador do título Nerd Mal, também conhecido como JN2300, nerdmal666 e jackjackleague?
- Sim... - ele fala tão baixo que parece estar com asma. - E a partir de 2011 eu fui vencedor do Miss e do Mister Esquisitice, eu ganhei os dois.
- Essa informação será adicionada no seu perfil virtual.
Um documento em PDF é aberto automaticamente na tela digital.
- Você jura perante o E-Book Sagrado que até o fim das guerras lutará com todas suas forças pelo máximo de exposição pública?
- Am... Sim?
- Agradecemos a colaboração, pode adentrar a arena.


Muitas, muitas pessoas gritando. Mas eram pessoas? Não, eram bichos muito esquisitos, deviam ser alienígenas. O chão era laranja e o céu púrpura com algumas nuvens azuis em formato espiral. O Sol era de rachar.

- Jack! Você está brilhando! - falou para o garoto uma menina alta com um véu cobrindo a cabeça enquanto se aproximava dele.
- Sim... é que o Sol está muito intenso. Ai... Acho... que tô com vontade de vomitar... Mas como você sabe meu nome?
- Sou eu, a Mary, não lembra de mim?
- Mary? Mas o que é isso na sua cabeça?
- Ah, é um véu. Eu quis raspar meu cabelo.


- Eu falei pra ela que isso é uma ferramente de opressão. - Disse uma menininha pequena que se revelou saindo de trás das pernas dela. - Mas ela é retardada, parece que quer ser oprimida.
- Não é opressão, eu tô usando porque eu quero, ninguém tá me obrigando. - Ela tinha olhos azuis e belos dentes, por alguma razão estava sorrindo, se era por alegria ou nervoso... - Você sabe o que está acontecendo? Olha, tem um pessoal do outro lado, acho que tô vendo um amigo meu.

Na parte oposta da arena dá pra ver várias pessoas de preto (que devem estar sentindo muito calor debaixo do Sol) e alguns outros mais baixos que não dá pra identificar muito bem, com exceção de um esqueletinho com chapéu mexicano.

No céu abre-se uma fratura luminosa, e desta todos ouvem a voz de um ser superior. É como uma fenda se abrindo no próprio vácuo do espaço.
- Mais luz não... - geme o garoto magrelo que absorvia luz.

"Eu sou do além! Destruam seus inimigos! Sejam criativos e interessantes e toda a atenção que já sonharam ter será de vocês. Posso concretizar seus sonhos, meu poder é infinito, assim fala Beyonder. Que comecem as Guerras Publicamente Expostas!"


O público todo reagia com bastante euforia, e logo menos já registrava suas sensações em seus comunicadores móveis, como celulares e iPads.

Olhando pro espaço do céu onde a fenda com a voz havia se fechado, um esqueleto do tamanho de uma criança diz - Maneiro... Acho que já vi isso em um gibi... - Ele olha pra vários velhos góticos que parecem desorientados do seu lado - Ei! Por que estou do mesmo lado que esses vampiros trouxas? Carajo...

Os vampiros velhos estavam ficando com a pele toda rosa. Devia ser por causa da luz do sol, estava causando efeitos diferentes nesse ponto tão distante da galáxia. Ele vê um garoto estranhamente normal, até meio "gatinho" o encarando sério. O esqueleto pergunta pro garoto.

- Chico, sabe o que tá rolando?
- Não ouviu o que o Beyonder disse? São as Guerras Publicamente Expostas, você tem que lutar e ser interessante para conseguir curtidas e seguidores. Esses vampiros otários devem perder rapidinho.
- Am? Tipo um reality show?
- Você não conferiu seu celular? - conforme ele fala o esqueleto tira um mini-aparelho com tela que nem sabia que estava no seu bolso. - Você tem que instalar o aplicativo das Guerras Publicamente Expostas para já começar a ir acumulando fãs.
- Nunca tinha ouvido falar disso...
- Provavelmente porque você nunca tinha vindo pra essa parte do espaço. Eu ia te quebrar, mas parece que somos do mesmo grupo.
- Qual é o padrão pra estarmos juntos??? Quem são aquelas pessoas do outro lado? É impressão minha ou é aquele campeão do Lol?

Uma pessoa da plateia jogou vários pãezinhos para dentro da arena, como faziam em antigos jogos romanos. Mas os pãezinhos estavam cobertos com molho de tomate! Os vampiros que andavam se balançando e cruzando as pernas acreditam ser sangue e vão correndo pegar os pãezinhos para comer. Na primeira mordida que dão já caem de quatro no chão com os olhos saltando da cara e fogo saindo pelo cú. Parecem sofrer infinitamente conforme berram de dor.


O cara que jogou os pães na platéia não presta atenção. Ele está atentamente mexendo no seu celular conforme comenta com o cara sentado do seu lado.
- Ainda não sei que tipo de poder me teleportou pra cá pra assistir essa porra, mas esse aplicativo das Guerras Publicamente Expostas é muito bom!
- Hum... - responde o outro cara conforme chupa o canudinho de uma garrafa de refrigerante.
- Dá pra acompanhar o status geral da guerra e ao mesmo tempo você clica e vê aqui o status pessoal de cada participante. Onde ele está, quem ele enfrenta, tudo que ele fez.
- É bom - ele toma mais um gole de sua bebida - que faz um ciclo que quando você vai ver a última coisa que te desperta interesse já pode voltar pra conferir de novo a primeira que você viu, começando tudo de novo vendo o que atualizaram. Aí você pode ficar o tempo todo entretido e não precisa fazer mais nada.
- É, tem um chat aqui também das pessoas que tão assistindo, mas ainda não olhei.
- É legal, mas ainda prefiro ver um pornozão.
- ...


- Nosso grupo pelo visto foi formado por monstros - diz o garoto bonitinho pro esqueleto mexicano olhando os velhos estrebucharem. - Veja, são todos vampiros, estão sofrendo por terem comido o pão de alho achando que o molho em cima era sangue.
- Mas que piada! Vampiros não sabem distinguir cheiro de sangue? - pergunta o esqueleto - Quer dizer, eu não tenho nariz, mas deve ter um cheiro diferente.
- Com a quantidade de cocaína que esses vampiros cheiravam não devem sentir o cheiro de mais nada. Esses velhos eram muito loucos.
- Tô ligado. Mas o que você tá fazendo aqui se não é monstro?
- Claro que sou ow, sou um lobisomem, não tô transformado porque não tá lua cheia.
- Lobisooooooooomem? Aonde? Você nem tem pelos.
- Claro, né? Eu tiro. - ele responde virando os olhos. - Vamos pro outro lado pegar aqueles caras, devem ser uns nerds. Olha aquela menina com aquele bagulho na cabeça.


Enquanto isso... do outro lado...

- É injusto eles terem colocado monstros contra pessoas normais. - reclamava Mary.
- Normal?! - reclamou sua irmã menor - Quem você tá chamando de normal?! O Jack tá piscando que nem uma árvore de natal e você pode destruir esse planeta inteiro em um segundo se quiser.
- Eu... preciso pegar meu DS de volta. - Lamentava o garoto. - Isso que Jane falou... Você tem que soltar seus poderes, Mary. Vence todos eles e eu posso voltar a jogar meu jogo.
- Para, isso só aconteceu uma vez.
- Faz de novo. Faz quanto tempo desde a última vez que você menstruou?
 - Q.U--y. Não vai acontecer de novo, já disse!
- Seu rosto tá todo vermelho, está indo! Você precisa ficar enfurecida de TPM.
Ela dá um tapa na cara dele - Não estou enfurecida com poderes, eu estou sem-graça, seu idiota.
- Olhem vocês dois - anunciou a pequena. - Tem um viadinho se aproximando!

O pseudo lobisomem para de repente e expressa um sorriso maligno com os punhos estendidos ao céu
- Isso! A transformação está vindo! Uma lua deve ter se revelado acima da arena! O próprio Beyonder deve ter organizado isso para que eu comece minha ascensão entrando em combate. Ganharei infinitos seguidores quando verem minha melhor forma.

O moleque cai de quatro no chão e seu corpo começa a mutar e mudar de cor... Eis que ele vai se comprimindo... 

Se comprimindo...

Até que vira uma... borboleta!


Ninguém sabe o que dizer, mas tem uma pessoa no cenário que age mais do que fala. A menininha pequena pula, pega a borboleta com as duas mãos e a joga no chão. Ajoelhada ela desce suas duas mãozinhas fechadas em punho contra o inseto.

- Morre. Morre, filho da puta, morre.

Ela ia socando com cada vez mais força o corpinho esmagado da bela borboleta.

- FILHO DA PUTAAAAA!!!

Por fim levantou puxando as duas asas fora e fez questão de dar uma última pisada bem na cabecinha dela.


Antes que Jack ou Mary possam falar alguma coisa, algo treme no bolso do shortinho da criança.

- Que porra é essa? - ela pergunta.
- Jane, não fale palavrão. - pede sua irmã mais velha.
- Porraporraporraporraporraporraporraporraporraporraporraporraporraporraporra. - Ela vai olhando no celular que tira do bolso. - Eu tenho notificações. Caralho! Eu tô com um monte de seguidores.
- É, olha as fotos - comenta Jack olhando pelo lado - Você finalizou de forma bem violenta o menino borboleta. Agora não sei de onde tiraram essas fotos, é estranho.
- Sim, tem até zoom da cabecinha dele estourando. Espera um pouco, isso é muito esquisito. Como eles podem conseguir saber tanta-- Olha! Já tenho mais três seguidores.

- Ei, posso me unir com vocês? - pergunta o esqueleto que vinha correndo. - Meio que no meu time tem mais ninguém. - Do outro lado era possível ver os vampiros dançando funk. Realmente não serviam pra mais nada.
- México! Você também está aqui?! - responde Mary - Seu grupo não era o dos monstros? Aqui tem quase ninguém.
- Monstros--

Eles todos ouvem um estrondo muito alto que rouba suas atenções. É forte demais para ignorar.

Olham na direção do banheiro com placa de masculino.

Ouvem mais uma porrada muito forte!


A porta se abre! Um homem de terno sai correndo com as pernas abertas enquanto abotoa as calças - 

FODEEEEEEEEEEEU! - Ele grita desesperado.

Eis que a porta explode a frente junto com toda a parede ao redor. Da destruição se revela um monstro marrom.

- É o Cocô Hulk!


A plateia inteira se levanta indo à loucura! Eles gritam e batem palmas sem parar, até que todos se unem em um coro:

"COCÔ HULK!"

"COCÔ HULK!"

"COCÔ HULK!"

"COCÔ HULK!"

"COCÔ HULK!"

- Que merda tá acontecendo?

Continua...



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