Pussy, Rammstein e a cultura do estupro



Lá vem o fulano que acha incrível um projeto que criminaliza o funk e ouve Pussy do Rammstein.
A aversão ao funk é aversão ao pobre. Mais do que isso, o sentimento de superioridade que quem escuta rock tem, vem duma visão ampliada dessa aversão: O rock comprado e apropriado culturalmente pelo branco dos EUA. O metal modulado na europa, na NWOBHM.
Daí cê tira. Pres'tenção!
#MamaHet - Mariane R.

Eu provavelmente não deveria perder o meu tempo com um texto escrito justamente por uma página chamada "Headbanger Feminista", mas foram tantas coisas que coincidiram sobre o mesmo assunto na mesma época, que pareceu valer a pena fazer esse post em retrospectiva sobre a comparação que a moça fez, entre funk e Rammstein. São as próprias memórias do tio Joker, que serão colocadas após a letra da mencionada música "Pussy", do Rammstein.

"Grande demais, pequeno demais
O tamanho importa, afinal
Grande demais, pequeno demais
Poderia ser um pouco maior

Mercedez-benz e da auto-estrada
Sozinho na condução da rota internacional
Viajar, viajar, o prazer de conduzir
Eu só quero me divertir, não me apaixonar

Só um pouquinho...
Só uma vadiazinha...

Você tem uma buceta!
Eu tenho um pinto!
Então qual é o problema?
Vamos fazer logo isso!
Então me leve logo antes que seja tarde demais
A vida é muito curta, eu não posso esperar
Me leve agora, você não vê?
Eu não posso transar na Alemanha!

Baixo demais, alto demais
Não importa, tamanho único
Grande demais, pequeno demais
A barreira deve estar no topo

Garota bonita, faminta por mais?
Aquele trovão com a arma de carne!
Conhaque em sua cabeça, noiva linda
Encaixe meu bratwurst no seu chucrute

Só um pouquinho...
Seja minha vadiazinha..."

Essa é a letra da música, agora vamos lá conferir se quem tem um problema de interpretação sou eu ou... sei lá... outra pessoa...




2009

-É lançado o clipe da nova música da banda Rammstein, "Pussy". O clipe é pornográfico e mostra os membros da banda transando com atrizes pornô. Pra poder assistir o clipe os fãs tinham que cadastrar contas em sites 18+ de vídeos adultos, já que sites de vídeos normais não upariam um clipe assim. A partir de então a banda recebeu uma série de processos por causa do clipe, não apenas pela pornografia, mas sendo acusados de referências ao nazismo, por causa da forma que o vocalista canta no clipe em frente a vários microfones de imprensa com a bandeira da Alemanha, o que fez muitas pessoas lembrarem do Hitler. Nessa parte do clipe ele canta uma parte do refrão:
"Você tem uma buceta. Eu tenho um pinto. Então qual é o problema? Vamos fazer logo isso!"

-No mesmo ano, no início da minha adolescência, eu consigo convencer alguns amigos a irmos na festa junina do colégio pra dar uma descontraída na rotina. Nós nem íamos dançar, só assistir. Tinha comida e era na quadra de educação física da escola. Pra minha terrível infelicidade, depois da quadrilha não tocava músicas típicas da data, só tocava funk. Então, quando tocava "Créu", uma imensidão de pessoas entre treze e catorze anos, inclusive mulheres (ressalto o gênero pela autoridade moral da nossa época ser o Feminismo) fizeram uma centopeia de chinchação (como se tivessem trepando, só que de roupa), realmente fizeram uma roda enorme.


Eu e meus dois amigos, como os bons nerds que éramos, fomos pro canto ficar segurando nossos copinhos. Chegaram a me chamar, mas eu escapei com a desculpa "Tem muito homem". Quando você não quer fazer algo que te incomoda você precisa dar uma justificativa que evite que te chamem de "nerd" ou "gay", ou seu incômodo só vai aumentar com acusações incansáveis.


Claramente as professoras e coordenadoras ficaram chocadas, dava pra ver pela cara delas, mas creio que com tanta gente agindo assim, não deu pra impedirem, já que esse tipo de comportamento explicitamente não é muito comum numa escola, ou qualquer ambiente público; ou ao menos em 2009 não era. Eu e meu amigo notamos que uma professora formada em Geografia, Filosofia e Sociologia na USP e sempre falava mal de funk foi embora bem nessa parte, hahaha.

Não tava tocando "Pussy" do Rammstein, tava tocando funk.


2011

-No intervalo da escola meus amigos reparam como na escada, meio escondidinhas, umas garotas mais novas (14 ou 15 anos) tavam dançando funk conforme ouviam de um celular. Aquele jeito de ficar rebolando e abaixando a bunda. Claro que era na escada, porque não pode fazer danças daquele tipo em público. Eles falaram como uma coisa legal, tipo "Olha as mina lá dançando". Aquelas meninas ainda eram tão novas e magrinhas que nem tinham o corpo desenvolvido direito, eu olhei e não demorei pra falar que aquilo era horrível.

Douglas old man Joker

Eles logo falaram que eu era gay, porque a minha opinião indicava que eu não gostava de mulher. Bem, eu tava sempre pouco me fodendo pra isso. Eu já tive namorada da minha idade e mais velha que eu, agora que sou adulto, e nenhuma delas dançava assim, é mais estranho ainda você ver crianças dançando. Conclusão? Seis anos depois, como um adulto, eu concluo que é estranho mesmo ver uma pessoa dançando de forma que esfrega o cú no chão, mas sendo criança é mais estranho ainda.


Elas não tavam ouvindo "Pussy" do Rammstein, tavam ouvindo funk.


2012


-Na festa de formatura do meu colégio, as únicas músicas legais que tocaram na pista foram "Gangnam Style" e "I'm Sexy and I Know It", que são músicas bem engraçadas e até que tem um ritmo bem legal. De resto só tocou sertanejo e funk. Não tocou Rammstein, inclusive é capaz que não houvessem cinco pessoas naquele prédio inteiro que conhecessem Rammstein. Bem, toda vez que tem alguma festa as pessoas fingem que não me vêem quando tão fazendo a lista de músicas pro DJ, aí só toca algo que eu queira se eu ficar enchendo o saco, quase subornando, o DJ.
OBS.: Mais de uma vez, quando tocou a música que eu queria após muita insistência, nem fui eu, mas outras pessoas que observaram como muitas mais pessoas estavam participando e parecendo se divertir mais. Detalhe...

Como a gente já tava na festa, todo mundo tenta se enturmar e aproveitar de qualquer jeito, mesmo as músicas sendo chatas. Chegando no funk passa de chato pra insuportável, chega a nem parecer que é música. Lembro que em um momento a letra da música (que eu não vou procurar exatamente) dizia explicitamente, sem qualquer metáfora ou coisa do tipo que o cara ia arrombar o cú da mina e deixar ela toda estourada, assim mesmo. Lembro que meu amigo Bud, que sempre gosta de pagar de eclético, alternativozão colocou as duas mãos na cabeça assustado e falou "QUE ISSO?!".


Ninguém espera ouvir um bagulho desses. Lembro da expressão de um professor que era mais legal e descontraído e tava lá junto, a cara dele rapidamente mudou pra choque em um momento e ele saiu de lá. Enquanto isso várias pessoas bêbadas dançavam esfregando a bunda no chão e simulando sexo, tipo daquele jeito como se tivesse sentando num pinto. Ressalto o bêbadas, porque acho que dificilmente uma pessoa sóbria consegue ficar ouvindo funk por muito tempo, de verdade.


-No Ano Novo eu estava deitado no sofá da casa da minha família depois de ver os fogos na praia e comer feito um javali. Tava na globo e tinha um neguinho e uma loirona tocando funk. Eu não gosto, mas tava com preguiça de levantar pra ligar o videogame, então fiquei vendo enquanto não pegava no sono. Houve um momento da performance que o cara puxava a pequena saia da moça e ela ficava só com uma calcinha dançando com sua bundona enorme de fora. Foi engraçado que lembro que minha mãe chegou uma hora, olhou pra TV e falou "Ah tá, já estranhei achando que você tava ouvindo funk, ainda bem que você tá vendo a loira."

Ah é, quase esqueço. Não tava tocando "Pussy", do Rammstein no especial do Ano Novo, tava tocando funk. Inclusive eu não duvido nadinha que 99% das pessoas que assistem o especial de Ano Novo não conhecem essa música e talvez saibam nem quem é Rammstein.


2013


-Não vou poder ser muito específico no próximo relato, porque não entendo muito de subgêneros, essas coisas como pagode, sertanejo, samba, axé, na minha cabeça é tudo a mesma coisa, então não vou poder especificar direitinho. Mas houve um dia que um professor da minha faculdade estava contando como tinha ficado puto que tinha viajado de carro pra outro lugar onde ele sempre ia em um festival típico caipira (tocava algum desses estilos aí que eu não lembro exatamente) e ao chegar lá só tava tocando funk, que ele deixou claro gostar nem um pouquinho, além de tornar o ambiente meio desagradável pra quem quer levar a família.


O professor dizia que a partir de então não iria mais no festival porque não era mais a mesma coisa. Não era "Pussy" do Rammstein que os caipiras tinham deixado devorar a cultura deles, era funk proibidão.


2014


-Eu estava vendo um professor universitário em uma oficina explicar sobre a composição de histórias em quadrinho, e quando falava do roteiro, ele dizia que tinha um ritmo, como uma música, então ele fez questão de falar que isso não incluía funk, porque funk não era música. Aproveitando esse relato, em vários outros anos, todo professor de música que eu conheci deixava claro como ficava assustado com o sucesso do funk devido a mediocridade das composições, todos diziam que com o funk popular brasileiro havia nada para ensinar ou para aprender.

Ele não estava falando de "Pussy", do Rammstein.

OBS.: Não faz sentido dizer que é assim porque é música popular e não música clássica, já que há poucas décadas atrás, aqui no Brasil mesmo, música popular incluía Cazuza, Legião Urbana, Rita Lee, Mamonas Assassinas, Cassia Eller, Gabriel Pensador e etc.

Acho que ela não deve conhecer Rammstein. E mesmo que fosse ver o clipe de Pussy não ia poder, porque o clipe tá disponível só em sites que crianças não podem entrar.

-Meu treinador de boxe (negro cuja família veio da favela) tava comentando como funk era uma bosta porque o filho dele tava chegando em casa cantando uma música aí que falava explicitamente que gostava, ou queria, algo do tipo, que a garota fizesse boquete nele. Ele disse que brigava com o filho, onde ele havia ouvido aquilo? Na escola, as criancinhas cantavam aquele funk, aliás, nessa época já eram populares as crianças funkeiras, como McMelody e Brinquedo. Ele brigava com o filho dizendo que não queria mais que ele falasse aquilo, que ele nem sabia o que era. O filho tinha dito que então ia continuar cantando, mas trocando "boquete" por "basquete". O pai reclamava que era a mesma bosta. Esse professor sempre colocava "Racionais" pra tocar nos treinos de boxe, que ele gostava bastante. Pra quem não conhece, são uns rappers que tocam sobre a realidade dos pobres no Brasil.

Cara de bravo...

Os dois nem sabiam e até hoje não devem fazer a mínima ideia do que é Rammstein.


2015

-Fui com um amigo em um clube onde a banda de um outro amigo ia tocar. Mas era um lugar bem aberto, tinha de tudo lá, não era muito relacionado a um estilo especifico. Antes era só aquele funk insuportável tocando, tinha um monte de adolescentes drogados fazendo coisas embaraçosas. Uma hora uma minazinha que tava muuuuuuuuuuuito bêbada abaixou e o vestido curto e apertado dela deu uma levantada. Você acha que eu vi a calcinha dela? Cara, não tinha calcinha, a mina ficou com a buceta de fora. E ela era bem novinha... Eu e meu amigo só olhamos um pra cara do outro com os olhões super esbugalhados.


Cara, nem nós dois que somos homens, héteros (ou seja, gostamos de buceta, gostamos de "Pussy" do Rammstein) achamos aquilo legal. Sabe? É preocupante, você não consegue zuar, você não consegue evitar de pensar o quanto aquela mina tá exposta, mesmo você nem conhecendo ela. Claro que bêbada do jeito que tava não tinha muito controle sobre o que fazia, mas enfim... onde eu quero chegar é que...

Não tava tocando "Pussy", do Rammstein. Tava tocando funk.


2016

-Uma amiga minha que é diretora da saúde da cidade dela (não é pouca merda não) tava reclamando como eles não sabiam o que fazer com uma vizinhança que nos finais de semana tava começando a chegar um rolê, na rua mesmo, com uma caminhonete, ligava as caixas de som começava a tocar Rammstein? Não, funk, e o pessoal começava a usar um monte de droga na rua mesmo, fazer barulho de madrugada e até transar na própria rua. Claro que quem mora por perto não acha agradável. Ela nunca comentou qualquer dano social que havia chegado à prefeitura ao som de Rammstein. Isso porque eu, que sou um dos melhores amigos dela, adoro Rammstein. Inclusive mostrei eles tocando "Pussy" ao vivo pra ela uma vez, quando finalmente saiu o DVD "Live in Amerika". Eu só queria mostrar o refrão, mas ela quis ver tudo, afinal... mesmo não sendo o estilo dela, os caras levam uma piroca gigante que atira espuma pro palco. Ninguém espera isso.


Essa minha amiga também tem origens humildes, diz que já chegou a passar por grandes dificuldades com falta de comida na infância.


-Tem uma amiga minha que eu vou citar mais de uma vez, vou me referir a ela como "She-Ra", porque ela gosta da "She-Ra". Eu falei pra ela que ia assistir o Rammstein (uma das minhas bandas favoritas) no festival Maximus, e cantei pra ela a música "Pussy" que é uma das que eu acho mais legais e engraçadas, principalmente por causa do refrão. Ela achou engraçado. No mesmo ano ela ficou revoltada por terem colocado a Anitta pra cantar na abertura das Olimpíadas no RJ (eu não cheguei a assistir).

Por Hera!
Ela dizia (eu não conferi) que se você procurasse "anitta" no Google ou no Youtube não demorava pra aparecer vídeo dela pegando caras pela rola e esfregando na bunda dela. Conforme ela reclamava em um ambiente com mais pessoas, dizendo que lá fora o Brasil era o país da Anitta e das bundas de fora, uma garota (feminista de primeira) falou "então viva à Anitta e as bundas de fora", como se não houvesse nada demais. A She-Ra falou que viva o caramba, porque há uns anos atrás ela tinha se mudado pra Espanha e ao chegar lá várias pessoas quando descobriam que ela era brasileira perguntavam se era verdade que no Brasil as mulheres iam pra balada sem calcinha. Ou seja, uma fama do nosso país, láááá do outro lado do oceano, na Europa. Não vou generalizar as mulheres, mas acho que todos têm direito a voz, e diferente das feministas, a She-Ra (que achou graça de "Pussy") não vê a mínima graça em ter fama internacional de quem vai ficar bêbada dançar funk sem calcinha, e de ter a Anitta cantando na abertura dos jogos olímpicos. E nem é minha opinião, hein? A She-Ra é mulher e inteligente pra caralho.


-Um dia mamãe Joker (fã de Elvis, Beatles, Aerosmith, Guns 'n Roses, Batman, Homem-Aranha e X-Men) chegou em casa falando como estava em choque que tinha visto a coisa mais horrível na rua. Duas criancinhas, um menino e uma menina, tavam conversando, aí de repente o menino começa a chinchar a menina, a fazer créu nela dando risada. Toda essa cultura do estupro que mamãe Joker passou pro Douglas Joker quando ele era criança (Elvis, Beatles, Aerosmith, Guns 'n Roses, Batman, Homem-Aranha e X-Men) nunca levaram o Douglas Joker a fazer essas coisas quando era criança, na verdade ele nem sabia o que era isso. Vai por mim, eu sei, eu sou o Douglas Joker.


-Em um momento bem marcante, viralizou na Internet um vídeo onde uma garota tinha sofrido um estupro coletivo. Eis que um dos estupradores e pseudo cineasta resolve se filmar a frente da vagina destruída da garota e faz uma intertextualidade citando a letra de uma música de...? Funk. A letra da música dizia que era inauguração da vagina dela e haviam passado mais de trinta.



2017

-Tô conversando com a She-Ra na faculdade, e ela tá reclamando da mídia e da cultura como uma metralhadora giratória. Claro que o alvo principal é... adivinha? O funk. Ah sim, a She-Ra também tem origens humildes, pode não ser miserável, mas os pais não chegaram a fazer quinta série e mora numa zona pobre. Ela então fala que tão colocando funk, que só fala merda, pras pessoas ouvirem. Uma outra garota que está por perto (feminista de primeira) diz "Isso é preconceito". Eu falei pra ela que não era preconceito, pois sabíamos muito bem do que estávamos falando. Citei pra ela a letra de uma música de funk que eu havia ouvido tocando há poucos dias

"Você é de catorze. Te como deitada, te como de pé".

Completei dizendo que, por definição, isso era (e provavelmente sempre será) pedofilia. Ela falou "ah, mas tem músicas de outros estilos que também são assim". Eu perguntei: "Exemplo?", ela ficou quieta e não falou mais nada. Aí um amigo dela que também tava por lá falou que tem a música dos créditos de um anime chamado Hellsing que instrui como estuprar uma criancinha em um parque vazio. Eu falei que isso era uma merda também.


Sei lá eu que merda é essa, mas parece ser de terror, assim como o Rammstein quase sempre se apresenta de uma forma bem do mal.




Ou seja... acho que a maior parte das pessoas não olham pro Rammstein e pensam "Ai que legal, tenho que ser igual", acredito que pensam "Ai, caras loucos, mano!". Ou mesmo... "Que medo".

-Bugado com a contradição que pode ser uma feminista que tanto gosta de dissecar as letras machistas do Elvis e dos Beatles e censurar capas de gibis do Batman defender o funk, um dia voltando pra casa de carona com aquela minha amiga que trabalha na direção de saúde, eu perguntei pra ela se, com exceção de pornografia, que pelo próprio nome você sabe que vai envolver sexo, se ela já tinha visto qualquer coisa que sexualizava e desrespeitava a mulher mais do que o funk popular brasileiro. Inclusive falei que não estava dizendo aquilo simplesmente pra ela concordar comigo, mas queria que ela pensasse por conta própria e me dissesse se, com exceção de pornografia, ela conseguia lembrar de algum exemplo. Em menos de um minuto, a única resposta que ela me deu foi, "É, funk é foda".


-Há apenas 13 dias fui em uma festa junina na casa de uma amiga minha e demorava um pouco pras minhas outras amigas chegarem, então fui pro portão esperar elas. Uma hora as colegas do filho da minha amiga saíram da casa e foram pra calçada (afinal, na frente dos outros não fica legal fazer isso) e ficaram dançando funk simulando estar sentando num pau, como eu as via fazerem na escada do colégio seis anos atrás. Elas ficavam vendo quem conseguia fazer mais rápido, e tinham entre 13 e 15 anos. Eu peguei no meu celular e mandei mensagem por Whatts App pra She-Ra dizendo exatamente "Ae *She-Ra*. To numa festa junina. As minas de 13 anos td rebolando funk, kkkk, ô tristeza essa geração, cara. Eu sou mt velho, kkkk."

Ela respondeu "Pois é. Isso é brasil. Bizarro. Exclusivo. Vagabundagem BR. Kkkkkkk."

-Três dias depois ela me mandou um vídeo chamado "bonde das suburbias"


Disse ela que o local era o concurso de uma escola estadual, de decoração e proposta artística. Ela ainda falou no final que Aristóteles já dizia pra tomar cuidado com a música que o governo deixa o povo ouvir... De forma geral, eu nem entendi todo o raciocínio dela porque ela falou muita coisa, mas resumindo? O que o bonde das suburbias dança? Você deve imaginar.


-Há menos tempo ainda, cerca de uma semana, um amigo meu de outra cidade me chamou para acompanhá-lo em um sarau no estacionamento da faculdade dele. Ele podia tocar o violão e eu podia cantar. Nós havíamos treinado umas cinco músicas (todas de rock, uma do Rainbow, uma do Alice Cooper e três dos Ramones). Uma dos Ramones ele não conhecia, se chamava "Needles and Pins". Enquanto víamos a letra e as cifras no computador, ele apontou o dedo pra uma parte da letra (sim, ele é feminista) e falou: "Isso não é legal".


Eu li e era a parte da música que diz
"Um dia ela verá como dizer 'por favor'. E ficar de joelhos, é assim que começa..."


Sabendo que ele é um feminista a favor de censurar capas do Batman e se ofende com letras do Elvis, eu logo disse que o "ficar de joelhos" não se referia a fazer sexo oral, mas a implorar por estar triste. Ele disse então que não tinha pensado em sexo oral, disse que aquilo não era legal porque o cara tava desejando mal pra mina que deixava ele triste por ser platonicamente apaixonado. É, terrível...

Eu ouvindo essa música, me sentindo Satan em pessoa, o próprio psico de 50 Tons de Cinza.

Tinha algumas poesias minhas que eu queria ler, ele reagiu da mesma forma. A primeira era assim:

"Gatos e vacas mortas
Partidos em pedaços
Eles não têm dinheiro
Será que vieram por acaso?

Nunca são bem olhados
Será que abusaram do acaso?
Só tenho uma certeza
Não podem ficar calados!"


"Assando no asfalto
Sendo esquecido no congelador
Apodrecendo no porão
Sufocando com a dor

Fingindo que não existe
Fazendo a sua parte
Sabem que no fundo
Não são da sociedade!"


"Oh meu Deus! É impressão minha?
Eles fizeram algo errado?
Estavam tão bem ali
Parados e sentados

Acho que se revoltaram
Não entendem a situação
Estavam tão bem ali sentados
Isso é coisa do diabo!"

Ele meio que disse que era melhor deixar pra outra vez, mas pelo jeito dele pude perceber que tava incomodado pelas mesmas razões, porque é uma composição violenta e ia ofender as pessoinhas. A segunda eu não chego a ter escrita, mas era sobre um cara que estaria atravessando a rua e ia se distrair olhando pra uma ruiva que passava. Com isso ele ia morrer atropelado por um carro e sua alma acordaria em uma valhalla povoada apenas por ruivas, um destino reservado à aqueles que morrem olhando pra ruivas (eu tava lendo Thor na época). Meu amigo então me alertou que se eu lesse/cantasse aquilo lá as pessoas ficariam bem bravas por causa de supostos aspectos sexistas do meu texto. Deixa eu explicar: se trata de uma faculdade pública em São Paulo, então é cheio de esquerdistas. Eu fui pra lá esperando que encontraria uma utopia de moralidade pelo que ele tava falando.

-No final acabamos tocando só "Ballad of Dwight Fry" do Alice Cooper, eu cheguei a amarrar as mangas longas de uma camisa branca pra cantar.

Sem a camisa de força não tem graça.
Depois teve uma hora que um cara tava tocando uma música da horinha... Eis que ele para, coloca o braço pra cima e anuncia que agora é pras novinhas não sei o quê. Detalhe: novinha se refere especificamente a mulher menor de idade. Aí a música toda era uma batida repetitiva com ele falando "abaixa, abaixa, abaixa" ou "desce, desce, desce", algo assim. Quase TODO MUNDO começou a dançar aquele funk. Eu nem olhei pra cara do meu amigo, pro meu cinismo não traumatizar ele.


Claro que eu não aguentei e no outro dia comecei a vomitar o meu cinismo e ironia como se fosse um demônio ancestral sendo exorcizado pra fora do meu corpo. Tipo... como músicas que romantizam pedofilia e narcotráfico não são consideradas ofensivas por gente que sai denunciado pôsteres dos Vingadores e letras dos Mamonas Assassinas, que toca em qualquer festinha e todo mundo canta, dança e dá risada sem problema nenhum??? Qual é o sentido disso??? Ele falou que, apesar dele não concordar com isso, eles justificam que não se ofendem com o funk, porque o funk veio da periferia. Isso foi no dia 23, apenas um dia depois da postagem da "Headbanger Feminista" vir ao meu conhecimento no Facebook. Quer relembrar? Eu coloco aqui de novo:

22 de junho às 22:46

Lá vem o fulano que acha incrível um projeto que criminaliza o funk e ouve Pussy do Rammstein.
A aversão ao funk é aversão ao pobre. Mais do que isso, o sentimento de superioridade que quem escuta rock tem, vem duma visão ampliada dessa aversão: O rock comprado e apropriado culturalmente pelo branco dos EUA. O metal modulado na europa, na NWOBHM.
Daí cê tira. Pres'tenção!
#MamaHet - Mariane R.

E aqui a letra da música do Rammstein que ela mencionou, novamente:

"Grande demais, pequeno demais
O tamanho importa, afinal
Grande demais, pequeno demais
Poderia ser um pouco maior

Mercedez-benz e da auto-estrada
Sozinho na condução da rota internacional
Viajar, viajar, o prazer de conduzir
Eu só quero me divertir, não me apaixonar

Só um pouquinho...
Só uma vadiazinha...

Você tem uma buceta!
Eu tenho um pinto!
Então qual é o problema?
Vamos fazer logo isso!
Então me leve logo antes que seja tarde demais
A vida é muito curta, eu não posso esperar
Me leve agora, você não vê?
Eu não posso transar na Alemanha!

Baixo demais, alto demais
Não importa, tamanho único
Grande demais, pequeno demais
A barreira deve estar no topo

Garota bonita, faminta por mais?
Aquele trovão com a arma de carne!
Conhaque em sua cabeça, noiva linda
Encaixe meu bratwurst no seu chucrute

Só um pouquinho...
Seja minha vadiazinha..."

Bem, acabei de listar todos os acontecimentos em que o funk de alguma forma me incomodou, desde o ano que a música "Pussy" foi lançada até o exato dia de hoje. Em nenhum momento as consequências e influências daquela música me pareceram preocupantes, diferente do funk, que eu vi sendo propagado em escolas particulares cheeeeeias de playboys e emissoras de TV populares, enquanto alguns membros do Rammstein já foram até presos (não por causa de tráfico ou pedofilia, mas por causa de suas performances ao vivo). E eis que a genial Headbanger Feminista explica:

22 de junho às 22:46

Lá vem o fulano que acha incrível um projeto que criminaliza o funk e ouve Pussy do Rammstein.
A aversão ao funk é aversão ao pobre. Mais do que isso, o sentimento de superioridade que quem escuta rock tem, vem duma visão ampliada dessa aversão: O rock comprado e apropriado culturalmente pelo branco dos EUA. O metal modulado na europa, na NWOBHM.
Daí cê tira. Pres'tenção!
#MamaHet - Mariane R.


Eu nem entendo direito tudo que ela quis dizer nessa parte grifada. Aversão ao pobre? Tipo o Lemmy, o Ozzy? Sei lá, pra um movimento de pessoas tão preocupadas com a sociedade ao ponto de censurar uma capa de um gibi do Batman porque o Coringa (V-I-L-Ã-O) tava apontando uma arma pra uma mulher e não se ofender com R-O-M-A-N-T-I-Z-A-Ç-Ã-O de pedofilia e narcotráfico, INCLUSIVE, DEFENDER E JUSTIFICAR os "artistas" que fazem isso, me parece coisa de quem defecou o cérebro por acidente (ou intencionalmente). Gente, faz sentido? E mais, a partir do que essa página do Facebook e os maluquinhos todos do sarau defendem, então pedofilia e narcotráfico é menos ruim se você for favelado? Hein? Que eu saiba uma pessoa sofrer pedofilia, ficar viciada, ou morrer por causa de um tiroteio entre traficantes e a polícia é super trágico independente da sua classe social. Não conheço gente que more atualmente na favela (ao menos que eu saiba), mas conheço do morro, e ninguém ouve essas merdas de funk ou acha bonito criancinha rebolando o rabo. Conclusão? Conclusão? Eu tenho nada a concluir! Eu só tenho a frustração de estar a mercê de pessoas que pagam de moralistas comparando coisas que eu gosto com FUNK, sendo que isso não possui qualquer aplicação prática, ou mesmo um embasamento racional na teoria. É uma puta de uma máscara de pessoas que fingem estar preocupadas com a sociedade, com o próximo, mas elas não estão... são apenas posers. Lembra há mais de um ano atrás quando eu falei da diferença entre um roqueiro e um roqueiro, um revolucionário e um revolucionário, uma ofensa e uma ofensa? Então... aí está.

Viva a Anitta e as bundas de fora. Menos aversão aos pobres, menos Rammstein, mais funk, romantização de pedofilia e drogas, afinal... já aturamos o machismo por tempo demais.


Letra do Rammstein que envolve pedofilia (Wiener Blut):

"E quando você está no vale profundo
Você está pronto?
E estar lá, estar lá sem luz
Você está pronto?


Não tema nenhum acidente, nenhum tormento
Apronte-se
Eu estou com você e te abraçar
Eu prendo você no escuroNa
Na escuridão"

Letra do Rammstein que envolve uso de drogas pesadas (Adios):

"Ele põe a agulha na veia
E pede à música para que entre
Entre a garganta e o antebraço
A melodia viaja tranquilamente para dentro de seus ossos

Ele fechou os olhos
Em seu sangue uma batalha violenta ocorre
Um exército marcha em suas tripas
As entranhas se aquecem lentamente

Ele tira a agulha da veia
A melodia se esvai através de sua pele
Violinos queimam com gritos estridentes
Harpas cortam suas próprias carnes
Ele abriu os olhos
Mas ele não despertou

Nada é para você
Nada foi para você
Nada resta para você
Para sempre"

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